Há muitos anos que as Ostras fazem parte do meu quotodiano profissional. Com 12 anos (princípio dos nos 60), na zona das Pontes, perto de Setúbal, entrei no seu mundo - no Estuário do Sado. Destroncava, afinava (fazia a triagem) e ensacava. Nos intervalos era aguadeiro. Na década de 80 do século passado, fui funcionário da SADIMAR, empresa setubalense que, entre outros produtos, produzia e comercializava Ostras. Na altura era comercial e distribuidor de Ostras e ameîjoas na região de Lisboa.  Entretanto, por diversas razões, a minha vida profisional seguiu outro rumo - funcionário dos Serviços Municipalizados da C.M.S. - e assim interrompeu-se a minha ligação com o este mundo.

 

Alguns anos depois - 1985 - decidi suspender a minha atividade profissional (licença sem vencimento) e tentei formar uma empresa, abrindo o meu "próprio  negócio" no ramo dos bivalves. Dirigi-me às entidades competentes, informei-me acerca dos requisitos necessários e deparei-me com a obrigatoriedade de posuir uma concessão no Estuário do Sado. Resolvi todas as burocracias necessárias (e tantos obstáculos que me apareceram à frente) e aguardei pelo deferimento do pedido de concessão que...nunca mais chegava! 

 

Como em termos financeiros este impasse era insustentável, tive de voltar à minha atividade anterior - funcionário da Câmara Municipal de Setúbal. O desejo de voltar a trabalhar com Ostras tinha assim, aparentemente, caído por terra. Os anos passaram e, em 1992, quando nada fazia prever, recebi a notícia de que o pedido de concessão tinha afinal sido deferido. No entanto, após ter-me dirigido ao IPIMAR, em Setúbal, percebi que agora havia outra exigência: devido à qualidade das águas do Rio Sado, era necessário obter uma concessão, preferencialmente na Ria Formosa ou de Alvor, para que as Ostras fossem transpostas e lá permanecessem até melhorarem os padrões de qualidade e pudessem então seguir para o circuito comercial.

 

Entre 1992 e 1996 mantive-me enquanto funcionário dos  Serviços Municipalizados de Setúbal da C.M.S., mas continuei atento e empenhado em conseguir concretizar o meu sonho profissional. Em 1996 percebi que conseguiria uma concessão na Ria de Alvor. Analisei a situação, ponderei bem e decidi avançar. Assim, em 1997 nasceu este projeto que tem vindo a ser desenvolvido e aperfeiçoado todos os dias. 

 

Hoje leêm-se inúmeros artigos e veêm-se algumas reportagens acerca da Ostra Portuguesa e, inclusivamente, acerca  da sua revitalização no Sado, mas a realidade é um pouco diferente. No Sado o que se verifica, regra geral, é o recurso aos viveiros de peixe existentes, neles se desenvolver os juvenis provenientes de França, para, posteriormente comercializarem-se como sendo Ostras do Sado, ou simplemsmente, retornar a França, para servirem o seu mercado nacional. Na Ria de Alvor e na Ria Formosa o que se passa é exatamente o mesmo, sendo a Ostra comercializada como sendo portuguesa.

 

Desde 1997 que sou o único que efetivamente procura revitalizar a Ostra Portuguesa, capturando-a no seu ambiente selvagem, transpondo-a para a Ria de Alvor, de onde sai para o circuito comercial após atingir determinados padrões de qualidade. Existem outros projetos e inclusivamente estudos que procuram viabilizar e potenciar a criação, em Portugal, de juvenis da Crassostrea Angulata, mas que até agora nada de verdadeiramente significativo, ou pelo menos duradouro.