A Crassostrea Angulata
A produção de ostras na Europa baseia-se sobretudo na C. gigas, no entanto surgem novas oportunidades para a ostra Portuguesa e para a ostra plana (Ostrea edulis). Na década de 50 a Europa produzia aproximadamente 100 000 ton/ano de C. angulata , estando hoje reduzida a pequenos
produtores, distribuídos essencialmente no estuário do Sado que segundo Direção Geral das Pescas e Aquicultura (2009), foram produzidas em Portugal 98 toneladas de C. angulata e 392 toneladas de C. gigas no ano de 2008.
Atualmente as populações de C. angulata na Europa, estão localizadas em Portugal (Rio Sado e Rio Mira) e no sul de Espanha (FAO 2010). Estas resistiram à mortalidade massiva, bem como à introdução de C. gigas, apesar de em muitos locais do sul de Portugal existirem híbridos das duas espécies, o que levanta um enorme problema de variabilidade genética e de manutenção da espécie (Batista, 2007).
A Crassostrea angulata vulgarmente designada em Portugal por Ostra Portuguesa e em Espanha por Ostreon, foi inicialmente designada de
Gryphae angulata por Lamarck (1819) mais tarde designada por Ostrea angulata e por fim incluída no género Crassostrea (Sacco, 1897), descrita como C. angulata.
Atualmente a filógenia de C. angulata dentro dos moluscos é a seguinte segundo Worms, 2012:
Filo: Mollusca
Classe: Bivalvia
Sub-Classe: Pterimorphia
Ordem: Ostreoida
Super-Família: Ostreoidea
Família: Ostreidae
Sub-Familía: Crassostreinae
Género: Crassostrea
Espécie: Crassostrea angulata (Lamarck, 1819)
A ostra portuguesa foi inicialmente descrita por Lamarck, como sendo um endemismo da Península Ibérica. Pensava-se que foi introduzida na região francesa de Arcachon em 1867 (Boudry et al., 1998) como uma nova espécie para aquacultura, e que devido ao elevado sucesso, se expandiu por toda a França, e um pouco por toda a Europa. No entanto e só recentemente Boudry et al., (1998), identificou populações de
C. angulata em Taiwan, de onde se pensa que esta será originária. Estudos usando marcadores mitocondriais reportam a presença de populações “puras” desta espécie em Taiwan, assim é de supor uma origem Asiática que provavelmente é um caso de introdução antropogénica (premeditada ou não) na Europa (Batista, 2007). Hoje em dia esta espécie pode também ser encontrada em Portugal, Espanha e Costa Atlântica
de Marrocos (Fabioux et al., 2002).
Esta espécie apresenta uma grande tolerância ás variáveis ambientais, resistindo a grandes amplitudes térmicas e salinidade(Vilela, 1975; Ruano, 1997).
ANATOMIA
São animais de corpo mole lateralmente comprimidos e compostos de duas válvulas articuladas e um potente músculo adutor (Eble & Scro, 1996). O pé está atrofiado e o animal encontra-se no lado esquerdo (válvula à esquerda). A forma e cor da concha da ostra Portuguesa podem ser um pouco variáveis, devido ao tipo de substrato no qual está inserida. As ostras que crescem em substratos moles têm geralmente, menos lâminas que as que se desenvolvem em substratos duros. O seu interior é branco com uma mancha escura perto da ligação do músculo
adutor.
O corpo é coberto por um tegumento designado de manto, que está também envolvido no processo de calcificação da concha, entre os dois lados deste encontra-se a cavidade palial, um espaço livre dividido pelas brânqueas, onde existe a circulação da água através de um processo inalante e exalante (não existe sifão), do qual se obtém o processo de respiração e alimentação. A boca está situado perto do umbro, e o ânus encontra-se próximo do músculo adutor. Durante a fase de reprodução as gónadas ocupam quase toda a totalidade do corpo do animal (Bacca , 2007)
ALIMENTAÇÃO
A Crassostrea angulata, como outros bivalves, são animais filtradores,assim sendo alimentam-se de fitoplâncton, bactérias, larvas de invertebrados e detritos suspensos na coluna de água (Quayle, 1988).
A alimentação ocorre filtrando grandes quantidades de água, pelas brânquias, eliminando partículas de maiores dimensões (1-10 μm). Segundo Diederich (2006) uma ostra de tamanho médio pode filtrar 30 L/ hora. Este método de alimentação permite absorver os nutrientes e eliminar na forma de pseudofezes as partículas sem interesse para a sua nutrição (Hawkins et al., 1998).
As partículas efetivamente ingeridas, são conduzidas para o estômago coberto de cílios e muco, onde se produz uma trituração mecânica e enzimática (amilase, laminariase, celulase) (Hawkins et al., 1998). É comum a presença de grãos de areia nointerior do estômago de modo a facilitar a “trituração” do alimento.
REPRODUÇÃO
A ostra C. angulata, é um animal do tipo hermafrodita irregular alternado, que ocorre normalmente como macho na sua primeira maturação sexual, alternando de sexo (supostamente de dois em dois anos). (Vilela, 1975; Lango-Reynoso et al., 1999).
No entanto existe uma baixa frequência (entre 0 e 3%) de indivíduos que podem apresentar hermafroditismo simultâneo (Vilela, 1975; Steele and Mulcahy, 1999).
De acordo com Le Dantec (1968), o rácio sexual é geralmente de 1 fêmea para 1 macho (1:1) (Vilela, 1975), porém este fator está intimamente correlacionado com as condicionantes ambientais e o fator demográfico da população (Le Dantec, 1968).
As ostras apresentam um sistema reprodutivo simples, tanto na função como na estrutura, ambos os sexos tem as gónadas constituídas por uma rede de folículos, as quais abrem na câmara exalante através de dois poros genitais localizados sobre as brânquias (Walne, 1974). O aparelho reprodutivo está localizado na região gonadal, entre a glândula digestiva e o manto. Este é constituído por tubos, mais ou menos
desenvolvidos, dependendo da fase da gametogénese.
Na maturidade sexual, os tubos gonadais ocupam toda a região da gónada e esta torna-se mais clara. De uma forma geral, a reprodução marca-se por cinco fases: no outono, um estado de repouso marcado pela reorganização do tecido gonadal; no inverno e primavera, a fase de multiplicação das células germinativas por mitoses sucessivas; fase de desenvolvimento e maturação dos gâmetas; na primavera-verão os gâmetas maduros são emitidos por sucessivas posturas na água; por fim ocorre uma fase de absorção dos gâmetas não emitidos após as posturas (Chávez-Villalba et al.,
2001). Contudo, o ciclo reprodutivo dos bivalves varia consoante a temperatura da água e o alimento disponível (Joaquim et al., 2008).
Ciclo de crescimento de C. angulata: 1- fase adulta; 2- fecundação; 3- início da divisão celular; 4-larva trocófora; 5-Larva velígera (larvaD); 6-larva umbulada; 7-larva em metamorfose 8-juvenil
O ciclo de vida desta espécie pode demorar de 5 a 24 meses até atingir a sua maturação sexual, dependendo da temperatura do habitat em que está inserida e do nível trófico (Vilela, 1975).