As Ostras no Sado

 

Na década de sessenta, as ostras foram um dos recursos economicamente mais rentáveis para Portugal. Espécie nativa do litoral português, as ostras distribuíam-se ao longo da costa, formando nos Estuários do Tejo, do Sado e na Ria Formosa, os maiores bancos naturais nacionais. Nestes tempos, as exportações chegavam a atingir mais de 50 mil toneladas. Infelizmente, o panorama mudou. O crescimento industrial associado à inexistência de uma gestão racional dos recursos vivos do Estuário levaram às elevadas taxas de mortalidade das ostras e à ocorrência de doenças e de deformações das suas conchas, suficientes para provocar uma redução drástica do seu valor comercial.

 

No entanto, a partir da 2ª metade da década de 90, a situação começou gradualmente a inverter-se, com as indústrias a serem obrigadas a adotarem políticas ambientais no tratamento dos seus resíduos, com a imposição de novas regras ao nível dos combustíveis usados nos transportes marítimos, bem como a massificação das ETAR. Tudo isto contribuiu para uma melhoria significativa da qualidade da água no Estuário do Sado, o que, paralelamente também foi determinante para o "renascer" de alguns dos bancos de ostras (Crassostrea Angulata) existentes nas margens do rio Sado, na zona do Canal de Alcacer.


 

É precisamente num desses bancos - Monte da Pedra, na Herdade de Palma - que possuo uma concessão e é nela que capturo a Crassotrea Angulata no seu estado selvagem. Lá, propositadamente tudo aqui funciona ao ritmo da natureza: velocidade de crescimento variável, maternidade totalmente natural e com coletores próprios- as cascas das ostras mortas - quantidade que permite uma captura extensiva e assim garantir a expansão contínua do póprio banco para lá dos limites da própria concessão.

 

No Estuário do Sado existem efetivamente outras culturas de ostras. No entanto, ou são pisciculturas convertidas em pontos de crescimento e engorda de juvenis de ostra japónica (Crassostrea gigas), provenientes de França ou então são "ostras portuguesas" (Crassostrea angulata) que seguem diretamente para o circuito comercial, o que, na minha opinião, não é benéfico porque a qualidade não consegue ser minimamente razoável.